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RANGE A GRADE DE FERRO DA CADEIA 
QUANDO O JÚRI CONDENA UM INOCENTE

                         
          
                                                     
                      Este mote é muito solicitado nas cantorias por aí. Portanto, há uma curiosidade dos admiradores da poesia de saber quem o criou, por isto resolvemos publicá-lo, ao tempo em que informamos que sua autoria é de nossa lavra, e a primeira vez em que se pediu este mote foi em julho de 1994, numa cantoria na cidade de Aurora - Ceará. Veja agora o mesmo mote desenvolvido nesta data. 
 

 
Tudo pode no mundo acontecer
sem guardar sintonia com a ciência,
muito embora o rigor da consequência
venha alguém amargar sem merecer,
quando isto acontece faz nascer
uma nuvem chorando inconsciente,
e mediante o terror do acidente
a moral da virtude cambaleia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
       
A justiça ao errar gera uma fenda
no lajedo do mundo protegido,
quando alguém com um réu é confundido 
pra sofrer da sentença a reprimenda,
o roteiro da fé quebra a emenda
procurando uma seita  diferente,
desce um anjo do trono onipotente
e deixa um rastro de sangue na areia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 
Quando ocorre um equívoco na justiça
nasce mais um burlão da impunidade
e vai um pobre morar detrás da grade
suportando uma lei por ser omissa,
o fiel da balança tem preguiça
de pender para o lado consciente,
o tropel da maré forma corrente
algemando na praia uma sereia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 
Fica pálida a ciência do Direito
quando o réu traz consigo a inocência  
e perante o descaso e negligência
de um inquérito carrasco e imperfeito,
um debate acirrado e sem proveito
acarreta sentença incompetente,
um espírito aparece de repente
e a justiça que é cega se encandeia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 
É um crime ao pudor da liberdade,
um ataque aos princípios da história,
um desprezo às raízes da memória,
um apoio ao gestor da crueldade,
uma ofensa aos preceitos da igualdade,
invasão de uma forma diferente, 
um assalto de modo confidente,
uma festa em que o dono leva peia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 
Vejam só os efeitos da emoção
quando o réu é a vítima da incerteza
o causídico que faz sua defesa
não quer mais prosseguir na profissão,
o juiz que prolata a decisão
se declara nocivo e imprudente,
o soldado se julga intransigente
e o porteiro no mesmo se baseia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 
O silêncio se arvora e faz barulho,
a coragem declina e adormece,
o segredo se exibe e aparece,
a limpeza se opõe e forma entulho,
humildade se veste de orgulho,
harmonia se faz de prepotente,
o perdão não resiste ao incidente
e diz a Deus que o caso sacaneia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 
Um vulcão jorra água e se evapora,
uma serra enverdece e se estrebucha, 
um cordeiro resiste a quem o puxa
e uma ave campestre vai embora,
explicando os motivos por que chora
um trovão se revolta no nascente,
uma onda do mar vira serpente
vomitando um filhote de baleia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 
Mas nem sempre é o corpo de jurado
que tem culpa no rol da decisão,
mas são todos os que lidam na ação:
vigilante, meirinho e delegado,
testemunhas, perito e magistrado,
promotor, escrivão e assistente,
que se uniram e plantaram uma semente
que somente o demônio é quem semeia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 
São descasos que ocorrem com frequência
nesta máquina que mói a sociedade,
deflorando o rigor da lealdade
e induzindo os destinos da decência,
ela exige que trate de excelência
mas não tem o padrão de excelente,
burocrática, injusta, incoerente, 
onde a lei da propina galanteia
- Range a grade de ferro da cadeia
quando o júri condena um inocente
 


Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 19/01/2013
Alterado em 09/02/2013


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