BARRO QUE ME VIU NASCER!
DESEJO O MELHOR PRA TI.
Mote difícil de ser glosado por se apresentar na segunda pessoa do singular, o que obriga manter todos os versos nesta concordância. A palavra Barro, cidade onde nasceu o autor, tem no mote a função sintática de vocativo, e a expressão complementar (que me viu nascer) segue o mesmo destino. Eis a razão por que se admite o primeiro verso do mote na terceira pessoa do singular, levando-se em consideração, principalmente, a beleza da sonoridade, coadjuvada com a partícula de interjeição
Barro, querida cidade,
do sul do meu Ceará
que neste ano já está
com sessenta e um de idade,
ganhou a simplicidade
do Portão do Cariri,
e se a tua história eu li
foi porque quis aprender
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Barro, cidade da fé,
escrava dos teus recursos,
alvejada nos discursos
da lavra de Zecandré,
a sede fica no pé
da serra do Ouricuri,
todos que chegarem ali
têm vontade de descer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Já viste tombarem ao chão
vítimas de crime hediondo,
apadrinhaste o estrondo
do fuzil de Lampião,
do cangaço do sertão
foste líder por aí,
hoje alegria eu senti
vendo a paz permanecer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Quero ver os teus valores
no mundo reconhecidos
e a união de partidos
não te causar dissabores,
que os teus vereadores
conheçam bem teu croqui
e as ideias de saci
não venham prevalecer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Já tiveste produção
espelhada na fartura
da cana pra rapadura
e da safra do algodão,
porém outra plantação
nem que seja a do pequi,
pois ainda não perdi
a esperança de ver
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Simples, mas possui grandeza,
em ti esperança eu boto,
sempre utilizei meu voto
em prol de tua defesa,
já morei em Fortaleza,
Pentecoste e Trairi,
mas sempre votei aqui
para cumprir meu dever
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Enfrentaste o candeeiro,
seca, fome e violência,
padeceste a consequência
da guerra de Juazeiro,
assististe em teu terreiro
os ataques de Zumbi,
descascaste abacaxi
que deu trabalho a comer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Teus solos são favoráveis
dotados de olarias,
as Cartas de Alforrias
tiveram tempos notáveis,
hoje as expressões afáveis
equilibram teu chassi,
ainda existe cricri
que não deveria haver
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Barro, sabemos que tu
em momentos preteridos
deste guarida a bandidos
das bandas do Pajeú,
hoje o teu espírito nu
conforta quem vive aqui,
livre como um colibri
voando pra o povo ver
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Foste um autêntico celeiro
dos destaques nordestinos,
festejado nos ensinos
de Crisantina Monteiro,
foi aqui que João Flandeiro
chamou a glória pra si,
num bote de sucuri
viu a vida adormecer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
És rico de oração,
tens enorme patrimônio,
o patrono Santo Antônio
é quem governa teu chão,
o Padre do Riachão
pregou a lei de Davi,
foi com ele que aprendi
esta forma de dizer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Uma laia de prefeitos
já governou a cidade,
por falta de lealdade
poucos dos bons foram eleitos,
teus projetos são aceitos
mas o sucesso eu não vi,
ou porque não entendi
como quiseram fazer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Já recebeste visitas
de cangaceiros cruéis,
reduto de coronéis
que expulsou Jesuítas,
eu sei bem que tu limitas
com Aurora e Mauriti,
estas coisas descobri
ouvindo papai dizer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Cada distrito se arvora
os quais é bom que consagres,
Cuncas já foi de Milagres
e Iara que foi outrora
do município de Aurora
mas se desligou dali
e agora sendo daqui
vai te ajudar a crescer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
O teu primeiro chalé
foi feito de pau-a-pique
em Gangorra e Xique-Xique
Mandaçaia e Catolé,
na Timbaúba que é
o sítio em que eu nasci,
onde eu lutei e cresci
buscando o pão pra comer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
São poéticos teus dizeres
cantarolados no Estado,
a bacia do Salgado
conhece teus afazeres,
a Barragem dos Prazeres
é riquíssima em Tambaqui,
pra andar de jet ski
seu nome vira lazer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Tua comunicação
está melhor do que antes,
vinte e três mil habitantes
é tua população,
tua primeira expressão
foi a tupi-guarani
porque somente a tupi
não dava para entender
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Descasos hoje acontecem
sendo objeto de critica,
as dinâmicas da política
angustiam e te entristecem,
os teus filhos não merecem
os mandões do tititi,
o que eles fazem entre si
não vai te comprometer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
A média nacional
satisfaz teus pluviômetros,
quase quinhentos quilômetros
distante da capital,
teu hino municipal
nas notas só, lá e mi,
foi Cabral, filho daqui,
que conseguiu escrever
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Olhaste meu sofrimento
pra frequentar uma escola
conduzindo uma sacola
escanchado num jumento,
conheceste meu tormento
nas águas do Taquari,
viste que tudo isto aí
não me impediu de vencer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Viste Pedro Ernesto Filho
sem camisa e pé no chão
jovem pobre do sertão
plantando feijão e milho,
reconheces hoje o brilho
do seu anel de rubi,
um exemplo de guri
ensinando acontecer
- Barro que me viu nascer!
desejo o melhor pra ti.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 07/01/2013
Alterado em 21/05/2014