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                   A CASA DE ERNESTO 


               Pequena e antiga, feita no início do século passado, quando o terreno (Fazenda Timbaúba) ainda não pertencia à família do autor. Desprezada há muito tempo, abrigo dos animais e refúgio dos insetos, porém riquíssima em história. Visando a resgatá-la, o autor reconstruiu, mantendo a estrutura inicial. Vejam isto e muito mais nos versos que seguem. 
                 
                   
                                    
Pedro Ernesto Filho
                                                                 Abril de 2010



MOTE
ERA VELHA E DESPREZADA
HOJE ESTÁ NOVA E BONITA

 

Feita antes de quarenta
mas ainda estava em pé,
com rombos no rodapé,
feia, frágil e poeirenta,
paredes sem vestimenta
dando abrigo a parasita,
morcego fazendo fita
numa escuridão danada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.


Bem mais velha que Brasília,
pois foi feita em trinta e sete,
nela Ernesto e Elizete
construíram uma família;
não tinham farta mobília,
mas não sofriam desdita,
pois felicidade habita  
onde Jesus faz morada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Um canto ruído atrás,
as paredes todas tortas,
o cupim comeu as portas,
janelas não tinha mais;
ali dormiam animais,
cobras faziam visita,
o fogão era a guarita
da coruja apaixonada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Com muita base e sem medo
elaborei seu projeto,
desde o piso até o teto
Marcos cumpriu o segredo;
os mestres chegavam cedo
levando sua marmita,
baião de dois, carne frita,
ovo, queijo e mala-assada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Quatro meses de emprego
para mestre e ajudante,
a água vinha distante
no jegue de Zé Galego;
na ladeira um escorrego
que carro pequeno evita,
caçamba trucada grita
quando sobe carregada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.
 
 
É simples, mas tem história,
tendo história tem beleza,
por isto possui grandeza
nos registros da memória,
louvar sua divisória
é bom que o leitor permita,
porque isto facilita
exaltar sua fachada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Foi construído um banheiro,
uma área ampla e clara,
três árvores de espécie rara
dão sombra no seu terreiro,
um alpendre dianteiro
com três colunas de brita,
quem for lá logo palpita
uma rede atravessada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
O oitão é passarela
que tem dimensões compridas,
as paredes revestidas
portando a cor amarela,
vieram porta e janela
das bandas da Santa Rita,
é bom que ninguém omita
a largura da calçada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.
 
 
Um cacimbão de valor
fornece a água encanada
e a caixa grande instalada
recebe o líquido incolor,
basta ligar o motor
que um cano grosso vomita
a bebida favorita
quase mineralizada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Um baixio enriquecido
proporciona altitude,
por trás um bonito açude
poderá ser construído,
quando o nascente é vestido
com nuvens da cor de chita,
a sua energia imita
uma noite enluarada
 - Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
O telhado é um encanto
onde um declive se deu,
o banheiro recebeu
cerâmica por todo canto,
com luz em cada recanto
escuridão não irrita,
cupim por lá não se agita
pois a madeira é pichada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.
 

O reboco do oitão
exigiu maior esforço,
Marcos foi buscar reforço
em Ronaldo seu irmão,
que a mesma profissão
com muito amor exercita,
como um no outro acredita
a dupla foi aprovada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Um sótão em forma de espera,
armador em vários cantos,
mas a parede dos Santos
continua aonde era,
onde tinha uma cratera
uma pia se habilita,
cerca de arame limita
o seu fluxo de chegada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Feita de uma só etapa
por força do bom comando,
Justino de vez em quando
oferecendo garapa,
por ser a melhor do mapa
toda turma requisita,
mais doce do que suquita e
melhor do que limonada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Branquinho foi ajudante
forte, firme e cuidadoso,
Jordão, neto de Barroso,
no serviço foi brilhante,
não faltava visitante
com sugestão esquisita,
mas a planta estava escrita
e por ninguém foi alterada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.

 
Lembra bem o construtor
que aquela casa só tinha
uma sala, uma cozinha,
um quarto e um corredor,
a reforma do setor
refez a área restrita,
hoje quem for lá transita
sem se reclamar de nada
- Era velha e desprezada
hoje está nova e bonita.
           


Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 24/04/2010
Alterado em 28/01/2013


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