EU QUASE BOTAVA O PÉ
NO DIABO DE UMA ARATACA*
O autor, antes de ser advogado, foi técnico agrícola e como tal prestou seus serviços ao Banco do Nordeste. Em uma de suas missões, ele fiscalizava o imóvel rural de propriedade de um cidadão de bem, chamado Vicente, no município de Mauriti, estado do Ceará, quando pelas veredas que o levavam a uma área desmatada, confrontou-se com uma armadilha que, por pouco, não foi por ela vitimado. Diante do ocorrido, ali mesmo, emocionado, ele narrou este mote, que é mais um exemplo patente de versos em sete sílabas.
Foi na fazenda Balanço,
na terra de seu Vicente,
eu atrás, ele na frente,
num riacho estreito e manso,
eu subi por um avanço
quando avistei a bruaca
amarrada numa estaca,
Deus me ajudou, eu dei fé
-Eu quase botava o pé
no diabo de uma arataca.
Numa fiscalização
em vinte e oito de outubro,
a verdade eu não encubro
não tinha almoçado, não;
o sol da cor de latão
barbado igual uma jaca,
esterco seco de vaca
cobria aquele mundé
-Eu quase botava o pé
no diabo de uma arataca.
Foi um dia de canseira,
na areia eu me atolei,
pra chegar lá eu passei
seis cancelas de madeira;
era um segunda-feira
e eu estava de ressaca,
do carro amassei a placa
num tronco de catolé
-Eu quase botava o pé
no diabo de uma arataca.
Passava do meio-dia,
faltava nuvem no céu,
eu esqueci meu chapéu
e o sol quente que tremia,
eu procurava e não via
a sombra de uma barraca,
num galho de arapiraca
acertei um pontapé
-Eu quase botava o pé
no diabo de uma arataca.
Não foi pra fazer o mal,
pois seu Vicente é pacato,
armou pra pegar um gato
mas quase pega um fiscal,
talvez saísse em jornal
onde a manchete destaca,
ou mesmo de forma opaca
nas páginas da ISTO É
-Eu quase botava o pé
no diabo de uma arataca.
* Armadilha com que se apanham animais silvestres
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 28/09/2008
Alterado em 20/02/2010