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NUMA NOITE DE SÃO JOÃO.
Aqui se mostra como acontece o tradicional São João da Roça no sertão. Apesar da euforia junina, o autor manteve o capricho com a rima e a metrificação, numa demonstração sincera de que a arte de fazer verso tem regra própria e não deve em momento nenhum a mesma ser burlada, mas mantida rigorosamente com o fim de incentivar a evolução do repente e da literatura do povo.
Quem não conhece roqueira
e não se sentou em calçada,
nem comeu batata assada
na quentura da fogueira,
nunca dançou na poeira
sob à luz de um lampião,
nem sequer tem a noção
do que é festa na roça
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numa noite de São João.
Venha beber e dançar,
conhecer a brincadeira
da faca na bananeira
quando a moça quer casar;
na bacia, o rosto olhar,
dizer adivinhação,
apreciar o balão
cortando uma nuvem grossa
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numa noite de São João.
Tomar fogueira vizinha,
gracejar com voz ativa,
soltar bomba e gritar viva!
na fumaça da chuvinha,
beber cana e caipirinha
preparada com limão,
esbanjar sua emoção,
pois São João é festa nossa
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numa noite de São João.
Um ancião desabafa
falando do seu passado,
depois que fala um bocado
bota água na garrafa,
balança, tampa e abafa,
deixa enterrada no chão,
se aumentar uma porção
é sinal que chuva empoça
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numa noite de São João.
O dono da casa, atento,
enfeita os paus da latada,
é a sanfona afinada
o principal instrumento,
a hora do casamento
é a melhor atração,
o padre faz um sermão,
os noivos vêm na carroça
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numa noite de São João.
À meia noite o som pára
e tem início a quadrilha,
foguetão no espaço brilha
que até deixa a noite clara,
um matuto se declara
para a filha do patrão,
se a resposta for um NÃO
o cabra fica na fossa
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numa noite de São João.
Criança esquece da rede
nas explosões dos festejos,
nas ilusões dos gracejos
aguardente mata a sede,
bomba batendo em parede
que chega abala o oitão,
grita um ébrio no salão
comigo não tem quem possa
- Visite nossa palhoça
numa noite de São João.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 29/07/2008
Alterado em 20/02/2010
Alterado em 20/02/2010
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