NÃO PRECISA EXPLICAR OS SEUS FRACASSOS
MANDE, AGORA, A ALIANÇA QUE LHE DEI
Novamente o autor se manifesta a pedido de alguém e verseja este mote. Desta vez em decassílabo, um dos mais sofisticados que compõem sua obra literária Cidadania do Repente. O tema central é o sentimento inflamado respondendo às ações conflituosas, trazendo para a arte o tom do desabafo, o que é comum no verso popular.
Fui buscá-la na classe da pobreza,
dei-lhe grande destaque social
pra depois padecer um grande mal
oriundo de um gesto de fraqueza,
pois não são seus recursos de beleza
que me fazem burlar a minha lei,
outro amor de valor já encontrei
que merece o calor de meus abraços
- Não precisa explicar os seus fracassos
mande, agora, a aliança que lhe dei.
Não precisa negar que me traiu
nem dizer que foi péssima a excursão,
que durante a viagem de avião
não flertou pra ninguém e nem sorriu,
nem contar com quem foi que assistiu
ao Programa de Sílvio e Show do Rei,
o retrato que um dia lhe entreguei
se rasgou, por favor, queime os pedaços
- Não precisa explicar os seus fracassos
mande, agora, a aliança que lhe dei.
E não precisa dizer que foi à praia
pra somente rever a velha Olinda,
e que no ônibus durante a sua vinda
evitou um boêmio em sua laia,
que vestiu seu biquíni e minissaia
não me venha negar, porque já sei,
a promessa de amor que lhe falei
com seu jeito infiel virou bagaços
- Não precisa explicar os seus fracassos
mande, agora, a aliança que lhe dei.
Não precisa dizer que é só amigo
esse jovem com quem você passeia,
alegando que após às dez e meia
na cidade em que mora tem perigo;
a blusinha que mostra o seu umbigo
não precisa dizer: Eu já rasguei,
uma jovem leal já arranjei
que completa o vigor dos meus espaços
- Não precisa explicar os seus fracassos
mande, agora, a aliança que lhe dei.
Não pretenda fazer de mim otário
em dizer que na festa não dançou,
não bebeu, não brincou, não namorou
e o que fez não merece comentário;
no retrato que pôs em meu armário
minhas armas de fogo eu detonei,
seus presentes que eu tinha arrebentei
por vinganças a seus atos tão escassos
- Não precisa explicar os seus fracassos
mande, agora, a aliança que lhe dei.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 20/07/2008
Alterado em 21/02/2010