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NÃO DESENHE A NATUREZA 
      COM SANGUE DOS ANIMAIS

Mote em sete sílabas


                          O autor neste poema buscou alcançar a natureza, exarando um conselho muito forte para sua preservação. A todo tempo invoca a terceira pessoa do singular, isto como forma de robustecer a mensagem no sentido de orientar e educar. Apesar do zelo pela qualidade dos versos, o poeta não deixa de lado o gracejo subjetivo, como se pode ver no momento em que fala das ações dos animais. 


Não prenda em sua gaiola
um canário cantador,
não mutile um beija-flor
nem tire a vida de um gola,
na sombra da castanhola
não persiga sabiás,
nas plantas não jogue gás
nem polua a correnteza
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

Não bote fogo em floresta,
não corte planta sombria,
não dissipe a mataria
na qual a fauna faz festa,
o mundo somente presta
se nele houver vegetais,
as belezas naturais
geram saúde e riqueza
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

Guarde sua moto-serra
e aposente o seu machado,
deixe o campo sossegado,
não sugue o suor da terra;
caçador, desça da serra!
tire o chumbo dos bornais,
as armas não use mais
que Deus vê sua nobreza
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

Respeite os homens de farda
que fiscalizam o IBAMA,
que vestem da cor de rama
fazendo o papel de guarda,
despreze sua espingarda
e abandone seus punhais,
maior que seus arsenais
é o cântico da burguesa
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

A natureza está viva,
tem sentimentos também,
não faz ataque a ninguém
porque não é vingativa,
porém, forçada, ela priva
nossos direitos vitais,
aí, sim, é quando a paz
cede lugar à tristeza
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

Que as firmas tenham cuidado
de não poluir os ares,
petróleo invadindo os mares
é futuro ameaçado,
só se vê peixe emborcado
nas margens dos manguezais,
baleia ancorar nos cais
buscando a sua defesa
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

Se não fizerem queimadas,
não jogar lixos nos rios,
seus filhos serão sadios
com vidas mais prolongadas,
as serras arborizadas
e o chão com mais minerais,
mais freqüências pluviais
com fartura em sua mesa
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

Hoje, o Salgadinho chora
e ao transpassar Juazeiro
guarda mágoa do romeiro,
desabafando em Aurora,
depois de lá vai embora
levando os mesmos sinais,
pois já não suporta mais
o hálito da impureza
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

Deixe a juriti cantar,
o sagüi se divertir,
a mata tosca florir
e a fogo-pagou voar,
deixe a nascença jorrar
e o pavão ter seus rivais,
deixe a flor cor de lilás
exibir sua beleza
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.

Se quiser ter bom porvir:
deixe o sapo coaxar,
preá se multiplicar
e o predador competir,
a abelha produzir
delícias medicinais,
caranguejo andar pra trás
e o cancão fazer proeza
- Não desenhe a natureza
com sangue dos animais.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 16/07/2008
Alterado em 21/02/2010


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