COM TUDO ISSO EU AINDA
NÃO QUERO VOLTAR PRA ELA
O poeta, em face de sua sensibilidade, canta o que vê, o que sente e o que os outros pedem. Na última situação, precisa ele se colocar no lugar de quem faz o pedido e trazer para os seus sentimentos a dor de quem padece, com a conotação de que somente a poesia é capaz de fazer. Talvez seja esta a mais sublime qualidade de um menestrel. O mote em referência foi escrito por solicitação de um amigo do autor, cujo nome não há necessidade de revelar.
Ela possui boa altura,
olhos pretos, cor morena,
boca bem feita e pequena,
bom estilo de cintura;
quem a vê sorrindo jura
não ter outra assim tão bela,
e dizem que essa donzela
é calma, atraente e linda
- Com tudo isso eu ainda
não quero voltar pra ela.
Recebi recentemente
diversas fotografias,
faz mais ou menos dez dias
que ganhei dela um presente;
ontem, recebi urgente
uma carta sem seqüela,
vinha assim escrito nela:
"nosso amor nunca se finda"
- Com tudo isso eu ainda
não quero voltar pra ela.
Ela é filha de doutor,
fala mais de um idioma,
ontem recebeu diploma
de um curso superior;
ninguém calcula o valor
dos apartamentos dela,
a sua nave amarela
tanto é nova como linda
- Com tudo isso eu ainda
não quero voltar pra ela.
Seu belíssimo apogeu
tem ar condicionado,
um helicóptero encostado
que seu pai lhe ofereceu,
e no domingo quando eu
desço em sua passarela,
ela fica na janela
aguardando a minha vinda
- Com tudo isso eu ainda
não quero voltar pra ela.
Não passeia de motoca,
deixou de ir a seresta,
nunca mais freqüentou festa
nem dá valor a fofoca;
e quando eu passo ela toca
numa guitarra singela,
numa sinfonia bela
com várias canções me brinda
- Com tudo isso eu ainda
não quero voltar pra ela.
Em várias localidades
o seu pai possui fazendas,
ninguém imagina as rendas
de suas propriedades,
tem cinema em dez cidades,
clubes em Venezuela,
a declaração revela
cem casas dentro de Olinda
- Com tudo isso eu ainda
não quero voltar pra ela.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 12/07/2008
Alterado em 17/09/2008