Textos


                                             
                     DIA DE FEIRA


                       A feira popular é um evento comum nas cidades do interior. Assim sendo, não poderia ficar de fora da visão do poeta. Por isto é que aqui se apresenta em sextilhas, com versos de sete sílabas, presos aos rigores da deixa. 


Se você nunca assistiu
a feira em nosso sertão,
vista a roupa, apanhe um ônibus,
pegue a mochila na mão,
bote uns trocados no bolso
e desfrute dessa opção.

Venha ver banca de pão,
queijo branco como seixo,
animais soltos na rua,
carroça rangendo o eixo,
matuto dando mordida
na testa do quebra-queixo.

Rural dá defeito em eixo
e o povo termina a pé,
um rapaz guarda a peixeira
numa banca de café,
um eleitor perguntando:
a Prefeitura aonde é!?

Esmola pra São José
pede um velho aposentado,
uma morena caminha
reclamando do calçado,
convida a colega e sai
procurando o namorado.

Num tamborete sentado
há um falso professor
a quem as moças perguntam
sobre viagem e amor,
e uma vitrola tocando
um disco de cantador.

Diz um certo vendedor:
não posso vender fiado,
o freguês baixa a cabeça
sai triste e desconfiado,
procurando quem lhe pague
um serviço adiantado.

Um morador revoltado
pergunta pelo patrão,
a mulher diz ao marido:
compre café e sabão,
e um cabra aposta um real
no jogo do cinturão.

Numa casca de mamão
uma mulher se escorrega,
um bêbado convida outro
para beber na bodega,
dá topada no batente
que seu sapato desprega.

Um homem sai da bodega
vendendo um couro de bode,
um chapeado se abaixa
pega um saco e diz que pode,
um velho prova a farinha
que chega mela o bigode.

Bola de chiclete explode
na boca de uma criança,
um meninote do sítio
come pão que cresce a pança,
e um rapaz troca o relógio
em um jogo de aliança.

Um velho conta lambança
do tempo em que foi vaqueiro,
um cabra desconhecido
encomprida o converseiro
com três redes no pescoço
mandando botar dinheiro.

Despede-se um cachaceiro
no momento de ir embora,
chega na calçada e volta,
bota um pé dentro, outro fora,
dizendo que se esqueceu
dos alforjes e da espora.

Uma velha se acocora
pra comprar uma panela,
emborca e bate de banda
e escuta o tinido dela,
paga tirando um dinheiro
enrolado na flanela.

Numa burrinha amarela
vai mais um feirante embora,
pára ao chegar no correio
e pergunta a uma senhora
se tem carta para alguém
lá do sítio onde ele mora.

Um bêbado que vai embora
perde a feira no caminho,
fica caído na estrada
e o burro chega sozinho,
e a mulher manda encontrá-lo
no outro dia cedinho.

Venha sentir o carinho
de uma feira popular,
onde tudo o que acontece
não é possível narrar,
somente presenciando
você pode acreditar.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 10/07/2008
Alterado em 20/08/2008


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