LEGALIZAÇÃO DO ABORTO, UMA POLÊMICA INOPORTUNA
Poema vencedor no concurso literário promovido em 2007 pela CAPEF -Caixa de Previdência dos Funcionários do BNB.
Sendo eu um poeta advogado
não podia passar despercebido
desse tema que hoje é dividido
entre o mundo católico e o Estado;
sem ferir governante nem bispado
nem pensar em ser dono da razão,
muito menos formar opinião
nem ao povo causar constrangimento,
mas apenas narrar meu pensamento
agitando o calor da discussão.
Não se sabe se a Igreja tem razão
ou se são os mandantes do congresso,
se alguém diz que a medida é um sucesso,
o papado condena essa missão,
se o México já fez liberação
não é essa uma regra construtiva,
Nicarágua teve outra iniciativa
e o seu povo feliz se revelou
pois aquela Nação consolidou
ao aborto uma lei mais restritiva.
No Brasil, uma prática abortiva
hoje em dia por lei é proibida,
quando aborto ilegal ceifa uma vida
uma mãe vai à morte gradativa,
procurar para o caso alternativa
é questão de cultura e consciência,
liberar pode ser uma imprudência,
impedir requer mais explicação
a polêmica cresceu, virou questão,
entre grupo católico e a ciência.
O delito acontece com freqüência,
mil mulheres falecem anualmente
é o que dizem ministro e presidente
para darem ao aborto uma anuência,
mostram até quanto gasta a previdência
com as vítimas que escapam dessa ação,
mas não sabem dizer com precisão
o reflexo político e social
e se o aborto passasse a ser legal
quais seriam seus custos pra Nação.
Disse em tela o ministro Temporão
que o aborto é problema de saúde,
isto, em parte, demonstra uma atitude
de um país que conquista evolução,
mas precisa rever com atenção
da ciência jurídica a filigrana,
se essa idéia limita a raça humana
e cria regra de ordem pessoal,
se resolve um impasse social
gera outro da índole vaticana.
PPS em sessão cotidiana
criticou papa Bento Dezesseis
por julgar o discurso que ele fez
uma simples mensagem leviana,
defendeu a medida mexicana
por quedar pela sua ansiedade,
mostrou índice da clandestinidade,
declarou-se em favor do plebiscito
alegou que se o clero tem seu grito
foi conquista da própria humanidade.
O poder da religiosidade
quando opina tem suas conseqüências,
entre os próprios fiéis há divergências
que represam na sua integridade,
este assunto requer habilidade
em função dos reflexos sociais,
há quem diga que o pobre perde a paz
não havendo o que hoje se peleja
e que os príncipes sonhados da igreja
podem ser os futuros marginais.
Ética e roubo têm sido os principais
pontos críticos que a Igreja faz à esquerda,
apoiar o aborto é ter a perda
dos princípios de Deus, éticos, morais,
isto é o que dizem os cardeais
quando ao tema apresentam parecer,
se a mudança já pôde aparecer
na Itália, na França em Portugal,
nos Estados Unidos, por igual,
no Brasil também pode acontecer.
Sendo imune o direito de viver,
não se pode dispor da vida alheia,
o que hoje é motivo de cadeia
amanhã poderá isto não ser,
causa espanto a ciência defender
vida e morte da mesma criatura,
é de fato motivo de censura
ver a arte do médico amordaçada
numa mesma ciência autorizada
a tirar uma vida e fazer cura.
É difícil narrar essa estrutura:
abortar não é causa, é conseqüência,
impossível é atar uma existência
sem, da vida, romper sua espessura,
ou salvar ou matar é árdua jura
da ciência que enfrenta o dom da fé,
e cada uma opção prova que é
diferente demais no seu sentido
e o cristão por demais fica jungido
sem saber em que ponto bota o pé.
A ciência se apóia no tripé:
mortandade, miséria e violência
mas não mede o pendão da conseqüência
que metralha a família do José,
a igreja na trincheira arma um chalé
mas não tira os adeptos do suspense;
cada qual que se inspire, reze e pense,
pois nenhuma das partes justifica
se a ciência sustenta e não explica
a católica contesta e não convence.
Na verdade é de lei que não dispense
uma arma riquíssima e poderosa
que é o voto na hora audaciosa
pelo qual se decide a quem pertence,
só assim saberá, dos dois, quem vence
a polêmica que envolve tanta gente,
pode ser plebiscito o mais prudente
dos projetos que buscam ter aprovo
já que os homens que representam o povo
argumentam de forma inconsistente.
Para tanto se deve ter na mente
quanto custa aos erários da Nação
ir às urnas dizer um SIM ou NÃO
perseguindo mudança urgentemente,
para o público tornar-se consciente
é preciso campanha de tribuna,
mesmo assim inda fica uma lacuna
entre as brechas da seita e das razões,
é o Estado estourando seus milhões
e a Igreja gastando uma fortuna.
Talvez seja uma hora inoportuna
tendo em vista questões muito mais sérias
segurança, rumor, fome e misérias,
invadindo o sossego da comuna,
implorar uma lei que não mais puna
o aborto que é um crime legislado,
mais plausível seria que o Estado
irmanasse à igreja os seus assuntos,
entre si discutissem e os dois juntos
combatessem o delito organizado.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 07/07/2008
Alterado em 22/08/2008