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NINGUÉM DERRUBA UM TIJOLO DO CASARÃO DA FAZENDA
Data: 08/09/2008
Créditos:
Texto: Pedro Ernesto Filho
Gravação: Pedro Ernesto Filho
Voz: Pedro Ernesto Filho


         NINGUÉM DERRUBA UM TIJOLO
      DO CASARÃO DA FAZENDA.

               Neste trabalho, escrito em dezembro de 2000, o autor descreve a casa em que nasceu e morou por muito tempo. É um mote de rima rara, envolvendo nomes próprios, com detalhes de descrição, portanto, muito difícil de ser versejado, tanto no que diz respeito ao elenco das palavras toantes como nos ajustes da metrificação. É mais um mote em sete sílabas.


Aquele velho aposento
tem sete metros de altura,
treze e meio de largura,
dezoito de comprimento,
o seu piso é de cimento,
suas portas de encomenda,
os caibros não têm emenda
e as linhas são de miolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.

De três vezes, construída:
corredor, sala e varanda,
fica à esquerda outra banda
em três cômodos dividida;
uma cozinha comprida
onde a luta se desvenda,
não há vento que suspenda
nem que dê chuva de rolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.

Foi a casa onde meus pais
sessenta anos viveram,
catorze filhos nasceram,
três já não existem mais;
dos onze, cada um faz
com que a família entenda,
pois quem sugerir a venda
vai levar nome de tolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão fazenda.

Mariqueza, Isídio e Zélia,
Vanuza morreu novinha,
ainda Ernesto e Toinha,
Maricé, Lade e Lucélia,
que no pé de rosa amélia
brincavam sem reprimenda,
hoje tudo vira lenda
para inibir desconsolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.

Lá, Severina nasceu
com Adelmo e Ladeci,
Valdetário por ali
a sua infância viveu,
Pedro Filho, que sou eu
escrevi esta parlenda
para que o mundo aprenda
que recordar é consolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.

Nada está em abandono,
tudo recebe bons tratos,
tem na parede os retratos
do casal que foi seu dono;
lá, papai dormia o sono
na rede branca de renda,
mamãe levava a merenda
de café, batata e bolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.

No canto, uma vara torta,
um cabresto, uma cabaça
e um chapéu velho de massa
guardado detrás da porta;
uma mesa que suporta
o peso de uma moenda,
que para mim vale prenda
embora seja um rebolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.

A minha lembrança puxa
a arapiraca copada
em que papai, da calçada,
testava a sua garrucha;
penetrava até a bucha
naquela árvore estupenda,
o chumbo fazia fenda
que descobria o miolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.

Três portas para o nascente,
três janelas para o sul,
já foi pintada de azul,
mas hoje está diferente;
uma calçada na frente
para evitar que ela penda,
um curral que recomenda
manejar gado crioulo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.

A colheita de algodão
guardo na minha lembrança,
e aquela antiga balança
que pesava a produção;
a parede do oitão
já parecia uma agenda,
os pesos formavam tenda
de cepo e pedra de amolo
- Ninguém derruba um tijolo
do casarão da fazenda.


Enviado por Pedro Ernesto Filho em 18/07/2008



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