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CONVERSA COM MOUCO (poesia cabocla)
Data: 01/09/2008
Créditos:
Título: Conversa com mouco
Autor: Pedro Ernesto Filho
Gravação: Pedro Ernesto Filho
Voz: Pedro Ernesto Filho

                     
                   
CONVERSA COM MOUCO



                          Como se pode conferir na sua leitura, este trabalho reúne estrofes em oito pés com a mesma terminação, nas quais o primeiro e terceiro versos são livres, o segundo rima com o quarto e o oitavo, enquanto o quinto, o sexto e o sétimo rimam entre si. Aqui se adotou a linguagem cabocla, sem qualquer preocupação gramatical, porém conservando as exigências da rima e da métrica, fatores indispensáveis na construção do bom verso popular. É um poema imaginado e figura na coletânea do autor como pequeno exemplo de que dessa forma é também possível versejar sem fugir do estilo que as regras impõem à arte. 


Bom dia Siô Cazuza,
vamo conversá um pouco,
eu trouxe pra lhe vendê
sete jerimum caboco.
Tudo qui eu lhe dizia
seu Cazuza não ouvia
e somente repetia
-Fale arto qui eu sou mouco...

Aproveite, seu Cazuza,
qui meu tempo é muito pouco,
vendo também melancia,
tomate, batata e coco.
Seu Cazuza nada ouvia,
como quem se aborrecia,
dava um tossido e dizia
-Fale arto qui eu sou mouco...

Peguei o saco de fruta
e encostei no pé de um toco,
e disse por dez real
eu não vou lhe vortá troco,
não se assombre da quantia,
seu Cazuza nada ouvia,
novamente repetia
-Fale arto qui eu sou mouco...

As fruta foi produzida
na roça de Zé Tinoco,
eu troquei numa cangaia,
num facão e num piçoco;
e lhe vendê eu queria,
Cazuza não me ouvia
e a merma coisa dizia
-Fale arto qui eu sou mouco...

Falei sero, seu Cazuza
de raiva tô quage louco,
de tanto falá gritano
da garganta já tô rouco,
Cazuza não me ouvia,
um cigarro ele acendia
e novamente repetia
-Fale arto qui sou mouco...

Eu lhe disse, seu Cazuza,
vou findá lhe dano um soco,
eu sei qui a sua idade
devo respeitá um pouco,
Cazuza não me ouvia
se levantava e saía
e outa vez me dizia
-Fale arto qui eu sou mouco...

Parece qui esse véio
tá pensano qui eu sou louco,
pra me vingá dessa raiva
de tudo eu dizia um pouco,
Cazuza apena sorria,
pruquê ele não ouvia
os nome qui eu dizia:
-Eita desgraçado mouco...


Enviado por Pedro Ernesto Filho em 15/07/2008



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