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           REPENTE NÃO É ESPANTO
           QUE SE FAZ METENDO O BRAÇO.
 
             Mote desenvolvido, através da internet, por Pedro Ernesto Filho e Aldaci de França. É uma espécie de brincadeira, reportando-se a alguns repentistas que pretendem cantar exagerando o fraseado. Na verdade, sabe-se que a gesticulação harmoniosa enriquece a cantoria. 
 

PE
Poeta cheio de crença
que canta soltando o pinho
produz verso miudinho
mas a bagunça é imensa,
quem o vê de longe pensa
que ele está jogando um laço,
toma conta do espaço,
tira o parceiro do canto
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço.

AF
Sendo assim eu não destaco
porque não há quem suporte,
no aceno é muito forte
no repente é muito fraco,
pula mais do que macaco
com medo de estilhaço,
por que não faz como eu faço?
 pra que se remexer tanto?
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço
         
PE
Faz um reboliço feio
numa arrogância danada,
mas se alguém fizer zoada
esbarra o verso no meio,
encobrindo o aperreio
no povo dá um cagaço,
com a mímica de palhaço
vai se saindo, portanto,
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço.
  
AF
Só com as mãos ele traz
a forma de enganar,
quando vai metrificar
coloca sílabas demais,
não pensa os versos que faz
só mostra desembaraço,
troca as obras de Picasso
em macumba e pai-de-santo
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço.

PE
Levanta o braço direito,
bota a mão sobre o ouvido,
apesar do estampido
o verso não sai perfeito,
o palanque fica estreito,
o mote sai em pedaço,
e quando o tema é escasso
olha pra todo recanto
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço.

AF
Por demais desnecessário
é o poeta apelar
na hora que vai cantar,
por que não faz o contrário?
quem faz o público de otário
se depara com o fracasso,
perde cachê e abraço,
finda isolado num canto
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço

PE
Cantar com gesto é bonito
porém demais é defeito,
pois se o repente é bem feito
não é preciso dar grito,
o grito gera conflito
e robustece embaraço,
um ruído em descompasso
tira do verso o encanto
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço.

AF
Já vi repentista assim
em um dos bons festivais,
afirmar: cantei demais
mas a comissão é ruim,
e ao se dirigir a mim
promoveu estardalhaço
justifiquei seu fracasso
e não fiquei no recanto
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço.

PE
A mão direita não pára
e a outra afasta a viola,
depois que a viola isola
range os dentes, franze a cara,
parece que se prepara
para pousar num terraço,
igual um “pássaro de aço”
num telhado de amianto
- Repente não é espanto
que se faz metendo o braço.

AF
Faz teatro, é exibido,
quer ter aplausos de lavra
pronunciando palavra
sem conhecer seu sentido,
solta grito, dá gemido,
pula, dança e marco passo,
no verso faltando o traço,
se tem técnica, não garanto!
- Repente não espanto
que se faz metendo o braço.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 01/08/2010
Alterado em 01/08/2010


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