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                      É ASSIM QUE EU ME SAIO 
             SEM CAUSAR DECEPÇÃO



                      Era julho de 1996, na agência do Banco do Nordeste de Juazeiro do Norte, quando os colegas bancários se reuniam para homenagear os aniversariantes do mês. No início da reunião, fizeram menção à presença do autor e anunciaram aos convidados que ele declamaria um poema. Sem ter nada preparado para aquele momento, o autor se reservou em uma mesa ao lado e rabiscou os versos abaixo (mote em sete sílabas) que foram apresentados no encerramento da sessão sob os mais acalorados aplausos, talvez porque finalizou enfocando os nomes dos colegas que se faziam presentes. É um mote em sete sílabas e o seu primeiro verso traz uma rima um pouco trabalhosa.


Eu fui pegue de surpresa
a pedido de um amigo,
meu Deus o que é que eu digo
pra fazer minha defesa,
ficar calado é tristeza,
besteira não tem perdão;
Deus me dê inspiração
pra ver se me descontraio
- E assim rimando me saio
sem causar decepção.

Em vez de falar da guerra
prefiro pensar na paz,
porque é a paz que traz
felicidade pra terra,
quando um homem humilde erra
se vale da oração,
em busca do seu perdão
reza as novenas de maio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

Se falar de economia
preciso lembrar a crise,
é bom que se economize
pra ter o pão todo dia,
quem vive de euforia
pode sofrer precisão,
nas malhas da inflação
vocês caem, eu também caio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

Se falar sobre o progresso
lembro sua conseqüência
e o avanço da ciência
inibindo o seu sucesso,
o povo perde o acesso
ao emprego e profissão,
a máquina ganha expansão
e o homem perde seu raio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

Se falar de informática
lembro a tecnologia
que mostra a economia
antes da crise asiática,
os números da matemática
apurando a inflação,
o que implica o Japão
no governo paraguaio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

Falando da passarada
lembro o gola, o bem-te-vi,
o campina,a jurirti
e a codorniz que é rajada,
a rolinha aperreada
fugindo do gavião,
a viana e o cancão
imitando o papagaio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

Falando sobre jurista
no penal, tem Sousa Gama,
Hugo Machado tem fama
na área tributarista,
no Direito Trabalhista
Carrion tem posição,
sobre a Constituição
Ives Gandra e Ney Sampaio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

Lembrando a literatura:
Euclides fez Os Sertões,
Os Luzíadas de Camões
orgulham nossa cultura,
Azevedo é arte pura
que brotou do Maranhão,
foi o Casa de Pensão
romance de seu ensaio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

Se falar de folclorista
vou lembrar de João Bandeira,
Elói Teles, Biu Pereira,
Mainá, Cascudo e Batista,
Patativa está na lista
dos primeiros do sertão,
integra a mesma missão
Romão Filgueira Sampaio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

Falando de violeiro
lembro Oliveira e Diniz,
Ivanildo e Zé Luiz,
Geraldo e Sílvio Grangeiro,
e o Pinto do Monteiro
que já partiu num caixão
quem entende a profissão
quando lembra dá desmaio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.

E se falar de bancário
preciso lembrar vocês,
Nivaldo, Ambrósio e Inês,
Dina, Ione e Perbuário;
quem mais reclamam salário
são Marcos, Carmem e João,
e por sinal todos são
frutos do mesmo balaio
-É assim que eu me saio
sem causar decepção.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 25/08/2008
Alterado em 20/02/2010


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