Textos

              ENSAIO DE CANTORIA

Pedro Ernesto Filho & Aldaci de França


                                APRESENTAÇÃO

                                Pronto! está aqui um novo modelo de cantoria, através dos versos de Pedro Ernesto Filho, poeta já consagrado na região, e Aldaci de França, também consolidado na arte e no repente. Dois intelectuais: um é advogado e o outro, professor, que travaram, como dizemos nós cantadores, uma peleja por meio da Internet. A sextilha tem como assunto Juazeiro e Mossoró, cidades privilegiadas por Deus, que a uma deu um Santo e à outra, o sal, que Jesus tanto enalteceu. Por ironia do destino, essas duas cidades, querendo ou não, enrabicharam Lampião, pois o leitor verá como o cangaceiro tem sorte de sempre estar na história. Na seqüência, os menestréis desenvolvem um mote em sete sílabas e outro em dez, nos quais expressam sentimento e felicidade. É um belíssimo exemplo da arte de improvisar. Parabéns poetas pela iniciativa.

                                             João Bandeira de Caldas 
                                                     Poeta cantador

Sextilhas
Aldaci defende Mossoró, Pedro Ernesto canta o Juazeiro.

PE - Convido Aldaci de França
repentista e companheiro,
para dividir o tema
no nosso baião primeiro:
defenda seu Mossoró
que eu canto meu Juazeiro.

AF - Cada um segue o roteiro,
Deus aponta a direção,
siga cantando a cidade
do padre Cícero Romão
que eu vou defendendo a terra
que expulsou Lampião.

PE - Mossoró é campeão
na produção de salina,
na cultura e no turismo
o Juazeiro domina:
um braço das esperanças
da família nordestina.

AF - A História de Celina
Guimarães, no meu lugar,
seria grande injustiça
se eu não fosse registrar,
pois da América Latina
foi a primeira a votar.

PE - Um milagre singular
com a beata Maria,
a hóstia virando sangue
em Juazeiro se via,
a Igreja condenava
mas hoje reverencia.

AF - Aqui a Santa Luzia
é a nossa padroeira,
e a grande igreja Matriz
também serviu de trincheira
no combate a Lampião
junto à sua cabroeira.

PE - Juazeiro é terra ordeira
de um povo maravilhado,
o seu padre fundador
foi prefeito e deputado
e será o segundo santo,
do Brasil, canonizado.

AF - Mossoró tem avançado
com seu povo bravo e forte;
na cultura, no comércio,
educação e esporte,
tem as similaridades
com Juazeiro do Norte.

PE - O Juazeiro dá sorte
à população romeira,
Nossa Senhora das Dores
é a sua padroeira,
outra razão do turismo
dessa terra hospitaleira.

AF - Mossoró ergue a bandeira
da cultura nordestina,
com "Auto da Liberdade"
e com o "Cidade Junina"
que não está devendo nada
às tradições de Campina.

PE - O Juazeiro se assina
por terra da romaria,
do Cearense do Século,
da oração, da poesia,
onde os Bandeiras montaram
o berço da cantoria.

AF - Mossoró à noite e ao dia
tem porte de capital,
é uma cidade pólo
com petróleo, sol e sal,
é cortada por um rio
e está próxima ao litoral
.


Mote em sete sílabas
Chorei porque fui ferido
pela sua ingratidão.

AF - Chorei, sofri, senti dor,
por ser falso o seu carinho,
você só me trouxe espinho
quando eu lhe pedia flor,
na política do amor
você me fez traição,
somou na oposição
ao líder do seu partido
-Chorei porque fui ferido
pela sua ingratidão.

PE - Conheci quase criança
e no caminho da escola
botei na sua sacola
um bilhete de esperança,
a resposta fria e mansa
chegou me dizendo NÃO,
senti que a minha paixão
foi puro tempo perdido
- Chorei porque fui ferido
pela sua ingratidão.

AF - Sofri num período intenso
sendo vítima de amargura,
hoje dessa criatura
recordando, choro e penso
que as lágrimas molharam lenço,
colchas, lençóis do colchão,
fico na recordação,
cabisbaixo e abatido
-Chorei por que fui ferido
pela sua ingratidão.

PE - Eu chamei para dançar,
você foi, fiquei feliz,
naquele momento eu quis
com você continuar,
quis um abraço lhe dar
e expor a minha emoção,
você soltou minha mão
e me chamou de enxerido
-Chorei porque fui ferido
pela sua ingratidão.

AF - Fui concluir meu mestrado
e a professora, Doutora,
na banca examinadora,
de propósito, agiu errado,
por isto fui reprovado,
mas minha dissertação
justificava a visão
dos mestres que eu tinha lido
-Chorei porque fui ferido
pela sua ingratidão.

PE - Fiquei pronto no altar
da igreja ornamentada,
gente dentro e na calçada
aguardando a noiva entrar,
em vez de a noiva chegar
quem entrou foi seu irmão
pra dizer à multidão
que a noiva tinha fugido
-Chorei porque fui ferido
pela sua ingratidão.


Mote decassílabo
Ser feliz não depende do que falta
é bastante usar bem o que possui.

PE-Se eu não faço um tratado como Hely
sou feliz quando narro um bom romance,
se não tenho Brasília a meu alcance
amo o Barro cidade onde eu nasci,
se não sou um político e não cresci
admito as razões porque não fui,
se não faço um discurso igual a Rui
improviso um repente na voz alta
- Ser feliz não depende do que falta
é bastante usar bem o que possui.

AF - Se não tenho o talento de Neruda
que escreveu seus poemas de amor,
sou feliz como simples cantador
de platéia restrita, mas que ajuda,
se tirei do viveiro a única muda
e plantei em chão fértil, ela evolui,
não é tanto o que tenho mas não rui
como o muito daquele que se exalta
-Ser feliz não depende do que falta
é bastante usar bem o que possui

PE - Se renome nem fama eu conquistei
vivo bem com o pouco que Deus quis,
se me faltam os apelos de uma atriz
tenho ao lado a mulher com quem sonhei,
se na minha colônia eu não sou rei
no meu rancho o poder Deus me atribui,
se do rol da ciência alguém me exclui
no tocante à poesia não me assalta.
-Ser feliz não depende do que falta
é bastante usar bem o que possui.

AF - Se não faço a viagem mais completa
no lugar que chegar me sinto bem,
se um Corola eu espero e não me vem
sigo em frente na minha bicicleta,
se não pude cumprir com toda meta
uma parte que falta não me alui,
a ganância ao bem nunca se inclui,
é a lógica da vida quem ressalta
-Ser feliz não depende do que falta
é bastante usar bem o que possui.


                             DADOS BIOGRÁFICOS DOS AUTORES

Pedro Ernesto Filho, natural do Barro-CE, é poeta, escritor, advogado e assessor jurídico do Banco do Nordeste. Autor de 30 (trinta) cordéis e publicou ultimamente o livro Cidadania do Repente.

Aldaci de França, natural de Rafael Godeiro-RN, é poeta, professor e historiador. Autor do projeto Repente na Escola desenvolvido em estabelecimento da rede pública de ensino do Rio Grande do Norte.

Endereços dos autores
Pedro Ernesto Filho
Rua São José nº 466, edifício Heliane, ap. 102, Centro, Juazeiro do Norte – Ceará, CEP – 63.010-450
Fones: (088) 3511.4604 – 9916.6847

Aldaci de França
Rua Dionísio Filgueira nº 299, edifício Shesme Holanda, ap. 25-A, Centro, Mossoró – RN, CEP – 59610-090
Fones: (84) 9423.2780 – 3318.5426.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 24/07/2008
Alterado em 17/08/2008


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