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BIOGRAFIA EM VERSOS - ZÉ MARROCOS


              José Joaquim Teles Marrocos.

             
Estes versos complementaram o discurso de posse do autor no Instituto Cultural do Vale Caririense, em 29 de setembro de 2005. Zé Marrocos, em quem se inspirou o poeta, é patrono da Cadeira nº 31, reservada para o escritor homenageado. Aliás, é a principal tarefa de quem se associa àquele órgão discursar sobre a biografia de seu patrono. No caso em referência, são doze estrofes compostas de dez versos decassílabos


Embasado na lei da cantoria,
exibindo a verdade, um dom sagrado,
encarnando Gregório do passado
que deu nome à história da Bahia,
apalpando o veludo da poesia
com a fé de quem vence e chega ao trono,
no silêncio esperado pelo sono,
em estrofes de dez, sumariamente,
vou trazer para as páginas do repente
o que fez Zé Marrocos, meu patrono.

O seu pai, por João Teles, se chamou,
sua mãe, Conceição do Amor Divino,
um casal que por força do destino
na história da vida se encontrou,
desse tronco, Marrocos se gerou,
na cidade do Crato ele nasceu,
em Barbalha, brincou, lutou, venceu,
em Juazeiro foi nobre, foi famoso,
por ser primo do Padre Milagroso,
até hoje o sertão não esqueceu.

Vinte e seis de novembro, ele nasceu,
de oitocentos e quarenta e dois, o ano,
o destino cruel minguou seu plano,
sua morte precoce aconteceu,
novecentos e dez, ele morreu,
em catorze de agosto foi o dia
Juazeiro perdeu quem mais queria,
Cariri sentiu falta do talento,
Ceará desbotou seu movimento
e a história ofuscou sua magia.

Fundador do colégio Ibiapina,
criador do Jornal do Cariri,
através de O Rebate impôs aqui
discussão da cultura nordestina,
professor que zelou sua doutrina,
um caráter sem jaça e sem afano,
poliglota invejável em todo plano,
um zeloso do nosso Português,
dominava Espanhol, Latim, Francês,
se preciso, falava Italiano.

Na visão de famoso jornalista
do Vanguarda também foi fundador,
fez nascer o jornal Libertador
que ativou a campanha anti-escravista,
quando aluno, foi bom seminarista
e foi daí que aflorou sua nobreza
para ao pobre emprestar sua defesa
em campanha sincera e erudita,
erigiu a igreja Benedita
que passava por crise em Fortaleza.

Na campanha da pró-abolição
foi figura de luta e de destaque,
às medidas injustas fez ataque
procurando formar opinião,
o seu nome ganhou grande escalão
pelos gestos sensatos de bravura,
pretendendo afogar a amargura
de quem era sofrido e maltratado:
cidadão exemplar para o Estado,
mola mestra inibindo a escravatura.

Para ver do maltrato a extinção
investiu seu brilhante tirocínio
com Rodolfo, Amaral e Patrocínio
e outros mais que queriam abolição;
Boa Nova, o jornal da pregação,
do qual foi a figura oficial,
integrante da Comissão Central
que a Província chamou de necessária
com João Brígido, Barata e Cantuária
para o grande momento inaugural.

Dos chamados milagres de Juazeiro
atraiu para si o grande encargo,
que a ele custou momento amargo
com respaldo em jornais do mundo inteiro,
a beata e seu caso romanceiro
decorrido da hóstia milagrosa,
que por ser uma graça duvidosa
chamou-se de fato extraordinário
ensejando um debate literário
entre Paulo Machado e Mons. Feitosa.

Foi por isto acusado de inventor
deste fato que a Igreja ainda glosa,
escreveu a Questão Religiosa
que não foi aos alcances do leitor,
porém teve um famoso defensor:
foi o padre Azarias, um ativista,
que foi prático, sereno e otimista
condensando as razões no livro seu,
inspirado na fé quando escreveu
Em Defesa de um Abolicionista.

Também fez um papel inteligente
conquistando a vontade popular
juntamente com Floro e Alencar
para ver Juazeiro independente,
que do Crato foi vila antigamente,
o que em julho de onze foi desfeito,
Juazeiro por todos foi aceito
e elevado de vila a município,
Padre Cícero, um ídolo de princípio,
foi assim escolhido o seu prefeito.

Um encontro político ele marcou
no salão principal de seu colégio,
nas não teve o devido privilégio
de fazer como quis e planejou,
pois a morte na véspera o carregou,
como quem disse DEUS com seus afetos:
Zé Marrocos, seus sonhos são diletos!
Poucos homens na terra o imitarão,
durma em paz, pois cumpriu sua missão,
os que ficam implementam seus projetos!

Zé Marrocos, busquei seus ideais,
dinamismo, seus sonhos, sua história,
a conquista, os ataques, sua glória,
seus projetos políticos-sociais,
seu papel nos eventos culturais
e os discursos na moda gazeteira,
tudo em prol da família brasileira
numa prova de luta e afeição,
isto impõe sobre mim a obrigação
de honrar com amor sua cadeira.
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 17/07/2008
Alterado em 21/02/2010


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