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PEGUNTAS QUE FIZ ÀS ÁGUAS



                Com este poema, composto de dez estrofes em terminação diversa, o autor descreveu uma imaginária conversa com as águas em movimento, o que aconteceu quando observava às margens do rio Salgado o despenhadeiro provocado pela cheia. Fez isto em versos de sete sílabas, com rimas ora alternadas, ora emparelhadas, sem perder de vista os rigores da metrificação.


Água, só você responde
esta série de pergunta:
Em qual lugar é que esconde
as impurezas que junta?
Leva para os oceanos?
Ou por precauções dos danos
utiliza na viagem?
Leva paus, cerca e caniço!
Água, nem precisa disso
para exibir sua coragem.

Diga-me se é por maldade
que faz erosão na terra,
por que despreza a cidade
para conhecer a serra?
Por que você não conserva
isso tudo que reserva?
Só faz ir e nunca vem?
Quem toca em você se molha,
medita, delira e olha
sem você olhar ninguém.

Vejo pelo seu espelho
a penumbra da paisagem
e o rosto do sol vermelho
dedicando uma mensagem;
o que viu pelas alturas?
E por que as nuvens escuras
cobrem céu pra ninguém ver?
Se no espaço não há nada
banco, degraus nem escada,
e o que fez para descer.

Seu ruído é um consolo
para abrandar arrogâncias,
levando tudo de rolo
e sem distinguir substâncias;
dá vida a quem é mais forte,
dos fracos provoca a morte
com ações inconscientes!
Mistura flores com folhas,
por que não faz as escolhas
das espécies diferentes?

Água que ironiza as ondas
na força das cachoeiras!
Faz suas curvas redondas
no limite das barreiras!
É a sua direção
o leito estreito do chão,
e o seu destino é o além,
por que mostra essa vaidade?
Diga se sente saudade
dos lugares de onde vem.

Diga se vem de distante
e se tem destino certo,
que viu de mais importante
na solidão do deserto?
Diga se sofre processo
quando utiliza o excesso
e tira a vida de alguém;
por que você não descobre
quando desabriga um pobre
destruindo o que ele tem?

É para exaltar o mar
esse seu zoar romântico?
Pretende se misturar
com as ondas fortes do Atlântico?
Gosta mais de climas frios?
Diga se conhece os rios
Mississipi e Tietê,
diga também se percebe
quando um ser humano bebe
um pouquinho de você.

Você nunca se aborrece
com a presença de peixinhos?
Quando o perigo aparece
por que não livra os bichinhos?
O seu Deus é Oxalá?
Ou é o mestre Jeová
o grande profeta seu?
Ou não professa ninguém?
Diga se gosta de alguém
ou se vive só como eu.

Gosta mais das terras baixas,
nunca sobe, sempre desce!
Zombando, despreza as faixas
que a natureza oferece!
Responda como se sente
quando alguém rebeldemente
prende você com parede,
diga qual é o prazer
de ser útil e até ser
contrário de seca e sede.

Senti que você não gosta
de dizer o que não sei,
tive o nada de resposta
do tudo que perguntei,
não quis ouvir meu estilo
pra se dedicar àquilo
que é inútil ao que é seu,
fracassou com seus orgulhos!
será que folha e vasculhos
têm mais valor do que eu?
Pedro Ernesto Filho
Enviado por Pedro Ernesto Filho em 11/07/2008
Alterado em 19/08/2008


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